Foto: Divulgação/Copene Sul
O 7º Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros e Negras da Região Sul (Copene Sul), que começa nesta quarta-feira (15) na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), contará com um painel dedicado a saúde das populações negra e indígena. Intitulada “Atenção à saúde e racismo: invisibilidade e resistências”, a mesa deve ocorrer às 14h, com a participação de pesquisadoras locais e nacionais que são referência na área da saúde (veja abaixo).
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Ao Diário, a enfermeira e mediadora do painel, Leila Coutinho, falou sobre a iniciativa:
– Durante as reuniões (de construção do Copene Sul), percebi que não se falava numa mesa voltada para saúde. Então, conversei com a Angela Souza, que também coordena o Neabi UFSM e o Copene Sul, e ela autorizou a montagem dessa mesa potente, com colegas incríveis, cientistas negras e enfermeiras com muito conhecimento. Essa mesa vai trazer falas de vários territórios. Espero que, a partir dela, todos entendam que precisamos mexer na base, na formação dos profissionais de saúde, incluindo as políticas, letramento racial, letramento de gênero. É urgente que atenção à saúde de grupos vulneráveis seja feita com equidade e transversalidade.
Desafios
Especialista em saúde mental e presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial em Santa Maria, Leila afirma que os desafios enfrentados pela população negra em áreas como educação, saúde, trabalho e segurança são significativos e devem ser considerados na tomada de decisões.
– A falta de acesso aos serviços pode levar a problemas de saúde mental, incluindo depressão e ansiedade. E com o racismo, enquanto processo de adoecimento reconhecido pelo Ministério da Saúde, vivemos uma segunda pandemia. A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra visa promover a equidade em saúde, mas estamos ainda muito longe. De 5.570 municípios brasileiros, apenas 371 municípios tem a política de forma efetiva. Enquanto presidenta do COMPIR, estou desde o início do ano em tratativas para a implantação dessa política em Santa Maria. Quem sabe, até final de novembro, poderemos mudar o cenário nacional e aderir. É fundamental que políticas públicas sejam implementadas para abordar essas desigualdades, assim como é importante que a sociedade civil esteja engajada na luta contra o racismo e a discriminação – reforça Leila.
A situação da população indígena
O Brasil tem cerca de 1,7 milhão de indígenas, pertencentes a mais de 300 etnias e 270 línguas diferentes, segundo dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e do IBGE (Censo 2022). Os desafios enfrentados por essa população no acesso à saúde devem ser abordados pela enfermeira e mestra em Ciências da Saúde, Clarisse Ga Fortes, que é da etnia Kaingang. Ao Diário, ela falou sobre o atual cenário e a importância do debate:
– Apesar dos avanços na Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, os indicadores de saúde revelam profundas desigualdades como altas taxas de mortalidade infantil, subnotificação de doenças, desassistência em áreas remotas e dificuldade de acesso a serviços especializados. Além disso, o racismo estrutural e institucional se manifesta no atendimento precário, na falta de respeito aos saberes tradicionais e na ausência de representatividade indígena nos espaços de decisão. Essa realidade motivou a construção dessa mesa como um espaço de reflexão, denúncia e valorização das práticas de resistência que emergem nas comunidades indígenas e entre os profissionais que atuam na saúde indígena.
O evento
Com o tema “Resistências ao Sul do Sul: Tecendo as Cosmopercepções para o Bem Viver”, o Copene Sul 2025 segue até sábado (18) e deve reunir pesquisadores, estudantes e ativistas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, além de convidados de outras regiões do país.
A programação inclui conferências, mesas-redondas, minicursos, oficinas, feira afroindígena e atividades culturais. O evento é uma realização da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros/as (ABPN), em parceria com o Consórcio dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABs/NEABIs) e o Neabi UFSM.
Veja quem são as participantes:

- Enfermeira e mestre em enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
- Especialista em gestão pública pela Universidade Focus de Minas Gerais, Sanitarista pela Escola de Saúde Pública do RS
- Servidora da prefeitura de Santa Maria, responsável pelas Políticas de HIV/aids/IST e Hepatites e Promoção de Equidade em Saúde da Secretaria de Saúde
- Funcionária pública do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), atua na Unidade de Processamento de Materiais Esterilizados
Célia Mariana Barbosa

- Doutora em Ciências Médicas Famed-UFRGS Nefrologia, concentração Doença Renal Crônica e população negra
- Mestre em Ciências Médicas Famed PUC-RS, Nefrologia,aérea de concentração Doença Renal Crônica e População Negra Especialista em Nefrologia EENF UFRGS
- Especialista em Administração Hospitalar PUC-RS
- Líder de grupo afro-brasileiro de Estudos e Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), integrante do Programa de Ações Antirracista do HCPA e pesquisadora do Centro Experimental de Pesquisa do HCPA
Gisele Cristina Tertuliano

- Enfermeira, cientista social e especialista em Saúde Comunitária e Mestra em Saúde Coletiva pela ULBRA
- Doutora em Saúde Coletiva pela UNISINOS
- Pós-doutoranda em Saúde Coletiva pela UFRGS
- Servidora Municipal cedida à Secretaria Estadual de Saúde, Departamento de Atenção Primária e Políticas de Saúde-Divisão de Políticas de Promoção da Equidade em Saúde - Área Técnica de Saúde da População Negra
- Professora colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Ensino na Saúde- Mestrado Profissional- Faculdade de Medicina da UFRGS
- Integrante do GT Racismo, Saúde da Abrasco e da Articulação da Enfermagem Negra (ANEN), do Laboratório de Interseccionalidades, Equidades e Saúde da UFRGS e do Coletivo Atinúké.
Alva Helena de Almeida

- Licenciada em Enfermagem e bacharel em Enfermagem e Obstetrícia.
- Mestre em Saúde Pública e doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP)
- Servidora pública aposentada, com experiência na educação profissional e permanente do quadro de profissionais de saúde da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo
- Idealizadora da Articulação Nacional de Enfermagem Negra (Anen)
- Integrante da Soweto Organização Negra
Clarisse Ga Fortes

- Graduada em Enfermagem pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó
Copene Sul terá mesa com foco na saúde das populações negra e indígena pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó, com pesquisas nas áreas de saúde indígena, saúde da mulher, envelhecimento humano e plantas medicinais
- Fitoterapeuta e especialista em Saúde Indígena pela Faculdade Dom Alberto
- Faz parte do projeto vozes indígenas da produção de conhecimentos e pesquisadores indígenas da Fiocruz
- É enfermeira na Secretária Especial de Atenção à Saúde Indígena- SESAI
Leila Coutinho (mediadora)

- Enfermeira
- Orientadora de serviço do PET Saúde-Equidade da UFSM e participa Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI)
- Integrante da Articulação Nacional de Enfermagem Negra (ANEN)
- Presidente do Conselho de Promoção da Igualdade Racial (Compir) de Santa Maria e integrante do COMDIM/SM
- Integrante do Movimento Negro Unificado (MNU/SM) e do coletivo dos Antimanicomiais e Antirracista
Confira a programação completa do 7º Copene Sul:
Quarta (15)
- 8h – Credenciamento
- 8h30min – Espaço Erê
- 8h30min – Abertura Cultural e Homenagens
- 10h – Conferência de Abertura – Resistências ao Sul do Sul: Tecendo Cosmopercepções para o Bem Viver
- 14h – Mesa Redonda: Atenção à Saúde e Racismo - Invisibilidade e Resistências
- 14h às 16h – Sessões Temáticas (STs)
- 16h às 18h – Oficinas, Minicursos e Exposições
- 16h às 18h – Abertura Exposição Lélia Gonzalez
- 19h – Mesa Redonda II - Mulheres negras e indígenas ao Sul do Sul
Quinta (16)
- 8h –Credenciamento
- 8h30min – Espaço Erê
- 8h30min – Exposição Lélia Gonzalez
- 8h30min – Mesa Redonda III – Emergência climática: Racismo ambiental e luta pelo bem viver
- 14h – Mesa Redonda IV: Entre a Festa e a Luta – Clubes Sociais Negros como Território de Resistência
- 14h às 16h – Sessões Temáticas (STs)
- 15h às 17h – Painel OBERERI e Afrocientista
- 16h às 18h – Oficinas,Minicursos e Exposições
- 17h às 18h – Espaço para lançamentos de livros
- 19h – Reunião do Consórcio de Neabs e Grupos Correlatos; Assembleia do Fórum da Educação Básica
Sexta (17)
- 8h – Credenciamento
- 8h30 – Espaço Erê
- 8h30min – Exposição Lélia Gonzalez
- 8h30min – Nzila da Educação Básica – Caminhos Ancestrais: Diálogos e Reflexões com asCosmopercepções Africanas,
Indígenas e Quilombolas na Educação Básica - 8h30min – Simpósio BORI: Ori, Ancestralidade, Corpo na Arte da Cena e na Educação
- 14h às 16h – Sessões Temáticas (STs)
- 16h às 18h – Oficinas, Minicursos e Exposições
- 17h – 18h – Espaço para lançamentos de livros
- 19h – Mesa Redonda V: Raça e Racismo(s) – desafios da educação antirracista
- 20h30min – Confraternização – Jantar Baile por adesão
Sábado (18)
- 9h – Momento Cultural
- 9h30min – Mesa Redonda VI – Epistemologias Africanas e internacionalização
- 14h – Conferência de Encerramento – Exu, O Comunicador: Tecendo Saberes do Sul ao Sul; Carta do VII – COPENE-Sul; Apresentação Cultural de Encerramento